Quem me acompanha nas plataformas digitais já deve estar por dentro de tudo que rolou na última semana de alta costura, né? De 25 a 28 de janeiro, acompanhamos alguns desfiles que têm tudo para ditar a moda das próximas temporadas e, se ouso dizer, nos trouxeram um gostinho do que podemos esperar do futuro da moda. E quando digo “futuro da moda”, abranjo um futuro que vai muito além das próximas tendências fashion – me refiro principalmente ao papel social da moda. O crescimento da moda em seu campo virtual já pode não ser uma grande novidade, mas a democratização do acesso ao seu conteúdo promete trazer consigo grandes mudanças no impacto que esse campo pode ter em nossa sociedade. Vamos conferir?
Se os últimos desfiles e editoriais que temos acompanhado indicam revoluções no futuro da moda, uma dessas mudanças é a quebra dos padrões de gênero. O design de indumentária, nas mãos de visionários como Silvia Venturini (Fendi), Kim Jones (Fendi) e Pierpaolo Piccioli (Valentino), tem caminhado para uma abordagem cada vez mais fluída na identificação de gêneros, exemplificando com clareza a “moda individualista” defendida por Piccioli: menos padronizações e mais personalidade.
Dentre muitos padrões sociais já instaurados, a juventude reina como um ideal de beleza buscado por muitos e que se reforça intensamente no âmbito fashion. Ainda hoje, vemos uma grande maioria de desfiles e editoriais ilustrando rostos e corpos jovens, o que acaba ditando um padrão etário. Desde sua última coleção prêt-à-porter, a Fendi desfilou modelos mais velhos sob a direção criativa de Silvia Venturini, movimento continuado pelo novo diretor, Kim Jones, na última coleção haute couture da marca. Esse movimento indica um futuro em que a moda passe a incluir uma representatividade etária cada vez mais ampla. Afinal, não há idade para ser fashion!
O movimento #bodypositive tem ganhado uma visibilidade cada vez mais ampla graças a ativistas e militantes da causa, que prega a valorização de todos os biotipos e defende o fim da ditadura da magreza. Não é de agora que a magreza obsessiva – e muitas vezes tóxica – influenciada pela moda causa discussões e questionamentos, mas definitivamente o avanço do movimento tem influenciado marcas a ampliarem sua gama de tamanhos e modelagens, a incluírem corpos além dos magros em suas criações e, finalmente, a representar corpos reais em seus desfiles e campanhas.
Outra pauta que promete ditar o futuro da moda é o consumo consciente. É possível observar uma valorização cada vez mais aguda do movimento slow fashion, que vai contra à exploração trabalhista e à produção massificada impulsionadas pelo fast fashion e instiga uma produção mais humana e ecológica. Ainda nessa temática, outra prática que tem crescido notoriamente entre grandes e pequenas marcas é o upcyling – a criação de novas peças a partir do reaproveitamento ou reciclagem de materiais, retalhos, tecidos e até roupas inteiras, impulsionando uma moda que evite desperdícios. O avante de marcas como Dolce and Gabbana, que criou sua última coleção prêt-à-porter a partir de tecidos e materiais restantes de coleções antigas, e Viktor and Rolf, que desfilou sua mais recente coleção de alta costura com peças compostas por retalhos de tecidos, nos promete uma moda cada vez mais consciente de seus meios de produção para o futuro.
Beijos, H.