Um ano após seu icônico desfile em um campo de lavandas ao sul da França, o designer francês Simon Porte Jacquemus apresentou ontem (16/7), à frente da label que leva seu sobrenome, sua nova coleção para a temporada de primavera-verão 2021 em um fashion show não menos icônico que o anterior. Dessa vez em uma plantação de trigo em Marseille e com um público reduzido, o desfile foi um dos primeiros não virtuais após a flexibilização do isolamento na Europa.
Intitulada L’amour, a coleção foi inspirada no ideal de confraternização entre pessoas que comemoram o amor, e foi tomando forma através de referências como a coreografia do trigo do bailarino sueco Alexander Ekman e o realismo fascinante do filme Time of the Gypsies, do cineasta sérvio Emir Kusturica, ambas evocando à celebração entre pessoas queridas. Nas palavras do estilista, a coleção transmite a beleza da capacidade do amor de durar e até se fortalecer na ausência de pessoas reunidas – levando à compreensão que o contexto de isolamento social também teve influência na idealização da coleção por parte da equipe criativa. O amor que permeia suas decisões como diretor criativo e empresário, conta, incentivou a marca a mudar seu processo produtivo e criativo para um modelo mais sustentável, com dois desfiles por ano que apresentem de forma unificada uma coleção feminina e masculina para cada temporada.
Em um desfile que reflete a identidade visual da Jacquemus e sua estratégia comercial, a marca manteve seu calendário próprio de coleções e provou mais uma vez sua maestria em comunicar sua estética na era do Instagram, em que a apresentação é praticamente uma extensão do produto e em que o conteúdo é valorizado como um todo. Desde bolsas minúsculas a saltos esculpidos em formatos inusitados, o estilista conquista através de todo o imaginário que logra construir em torno de suas criações, que ascendem ao status de peça desejo rapidamente após seu lançamento.
Segundo o designer, a coleção é uma externação dos mundos interiores de cada membro de sua equipe criativa, que mesmo separada durante o confinamento, conseguiu expressar de forma unificada sua interpretação dos ambientes, objetos e tecidos de suas casas e comunicar a ideia de lar através das pequenas maravilhas que esses ambientes nos reservam. Chaveiros em formato de objetos cotidianos como pregadores de roupas e garfos, tops que aludem a almofadas, vestidos que remetem a cortinas, cós desconstruídos, muitas amarrações, assimetria, cores neutras e tecidos maleáveis são alguns dos elementos que refletem a sutileza escondida pelo corriqueiro e reforçam a intenção por trás da coleção nessa apresentação de tirar o fôlego.
Beijos, H.